Biblioteca

MACHADO DE ASSIS

do Centro Cultural Brasileiro CACUBRA

RESOLUÇÃO HCD Nº 283/07
OBJETIVOS DA BIBLIOTECA
A Biblioteca Machado de Assis tem por objetivo estimular e orientar os alunos nas várias áreas de pesquisa e leitura em português, assim como, promover a circulação do conhecimento e a interação entre a universidade e a comunidade a través da organização de atividades acadêmicas e culturais: exibição de filmes, debates, oficinas de leituras, entre outros.
 

Acervo da Bilioteca Machado de Assis

LITERATURA

 C ULTURA 

SOCIOLOGIA 

LINGUA

PEDAGOGIA

 








 

   MACHADO DE ASSIS VIDA E OBRA

 

                                            Myrna Estella Mendes

            Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um romancistacontistapoeta e teatrólogo brasileiro, considerado um dos mais importantes nomes da literatura desse país e identificado, pelo crítico Harold Bloom, como "o mais supremo literário negro de todos os tempos".

            Sua vasta obra inclui também crítica literária. É considerado um dos criadores da crônica no país, além de ser importante tradutor, vertendo para o português obras como Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo e o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe. Foi também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente, também chamada de Casa de Machado de Assis.

            Filho do mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina Machado, uma lavadeira portuguesa da Ilha de São Miguel. Machado de Assis, que era canhoto, passou a infância na chácara de D. Maria José Barroso Pereira, viúva do senador Bento Barroso Pereira, na Ladeira Nova do Livramento, (como identificou Michel Massa), onde sua família morava como agregada, no Rio de Janeiro. De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não frequentou escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, sua madrasta Maria Inês, à época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é provável que tenha assistido às aulas quando não estava trabalhando.

            Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora francesa Madamme Gallot, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar fluentemente, tendo traduzido o romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, na juventude. Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, como O Corvo, de Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou alemão, sempre como autodidata.

            De origem humilde, Machado de Assis iniciou sua carreira trabalhando como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, cujo diretor era o romancista Manuel Antônio de Almeida. Em 1855, aos quinze anos, estreou na literatura, com a publicação do poema "Ela" na revista Marmota Fluminense. Continuou colaborando intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como grande romancista. Machado conquistou a admiração e a amizade do romancista José de Alencar, principal escritor da época.

            Em 1864 estreia em livro, com Crisálidas (poemas). Em 1869, casa-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e quatro anos mais velha do que ele. Em 1873, ingressa no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como primeiro-oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de servidor público, aposentando-se no cargo de diretor do Ministério da Viação e Obras Públicas.

            Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma série de livros de caráter romântico. É a chamada primeira fase de sua carreira, marcada pelas obras: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), e Iaiá Garcia (1878), além das coletâneas de contos Contos Fluminenses (1870), , Histórias da Meia Noite (1873), das coletâneas de poesias Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), e das peças Os Deuses de Casaca (1866), O Protocolo (1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase Ministro (1864).

            Em 1881, abandona, definitivamente, o romantismo da primeira fase de sua obra e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, que marca o início do realismo no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um defunto e começa com uma dedicatória inusitada: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas". Tanto Memórias Póstumas de Brás Cubas como as demais obras de sua segunda fase vão muito além dos limites do realismo, apesar de serem normalmente classificados nessa escola. Machado, como todos os autores do gênero, escapa aos limites de todas as escolas, criando uma obra única.

            Na segunda fase suas obras tinham caráter realista, tendo como características: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), além das coletâneas de contos Papéis Avulsos (1882), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1906), Relíquias da Casa Velha (1906), e da coletânea de poesias Ocidentais. Em 1904, morre Carolina Xavier de Novais, e Machado de Assis escreve um de seus melhores poemas, Carolina, em homenagem à falecida esposa. Muito doente, solitário e triste depois da morte da esposa, Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho. Nem nos últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão. Bem conhecido pela quantidade de pessoas que visitaram o escritor carioca em seus últimos dias, como Mário de AlencarEuclides da Cunha e Astrogildo Pereira (ainda rapaz e por isso desconhecido dos demais escritores).  Ficcionalmente o tema da morte de Machado de Assis foi revisto por Haroldo Maranhão.

            É considerado por muitos o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos maiores escritores do mundo, enquanto romancista e contista. Suas crônicas não têm o mesmo brilho e seus poemas têm uma diferença curiosa com o restante de sua produção: ao passo que na prosa Machado é contido e elegante, seus poemas são algumas vezes chocantes na crueza dos termos -- similar talvez à de Augusto dos Anjos. A princípio utilizou os padrões do Romantismo na composição poética, porém deles não se utiliza em seus contos e romances. Confessa não participar do Realismo, é um crítico do estilo de Eça de Queiroz e acreditava existir uma Verdade necessária à obra literária, porém em seus romances busca desvendar os conflitos reais e os mecanismos sociais

 

A ESTÉTICA NAS OBRAS DE MACHADO

 

Machado de Assis foi um dos escritores mais polêmicos do século XIX. Alterou os rumos da literatura no Brasil colocando- a num outro patamar de qualidade. Começa, não por acaso, através da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas onde Machado assina M.A que antecedem o início da narração ficcional. Esse prólogo da obra, já aparece integrado à ficção e vem assinado por Brás Cubas, narrador e personagem principal do romance. A partir dali o leitor torna-se figura fundamental e matéria constitutiva da ficção de Machado de Assis.

Machado renova o romance brasileiro introduzindo em sua prosa o leitor malicioso, imprestável, preguiçoso, impaciente. No conjunto, essa galeria de leitor, formava um público de qualidade duvidosa e numericamente exíguo, o que também representava uma inovação no plano ficcional.

            O que chamava atenção na época eram as questões sobre a crônica na literatura brasileira. A situação desfavorável à ampla circulação das letras devia-se ao público reduzido de leitores. Os escritores que, em cartas, crônicas e artigos reclamavam da pouca repercussão dos seus livros, muitas vezes atribuíam isso à indiferença do público, que preferia os livros estrangeiros, sobretudo os franceses. Em certa medida tinham razão, pois a elite era capaz de ler também em francês. Entre um livro em francês e um livro brasileiro, muita gente não vacilava e preferia ir direto ao modelo francês.

Mas o problema não se resumia ao gosto pelo livro francês. Tinha causas mais estruturais que por muito tempo permaneceram desconhecidas, já que não havia dados e informações que dessem uma dimensão real do que ocorria. Foi justamente enquanto Machado produzia sua obra que se revelou que mais de 80% da população brasileira não sabia ler. Isso se deu com o primeiro recenseamento geral do Império, feito em 1872, mas cujos resultados só seriam divulgados em agosto de 1876, quando Machado já publicava seu terceiro romance. Helena, e quatro anos antes da publicação das Memórias póstumas de Brás Cubas, aos pedaços na Revista Brasileira.

O censo indicava que somente 16% da população brasileira era alfabetizada. A porcentagem tornou-se ainda menor em 1890, quando se apurou que 14,8% da população sabiam ler e escrever. Ainda segundo o censo de 1872, apenas 12 mil pessoas frequentavam a educação secundária e havia oito mil bacharéis no país, número ínfimo diante dos quase 10 milhões de habitantes. Machado escreveu uma crônica sobre os resultados do censo, questionando a representatividade das leis e dos discursos num país em que a esmagadora maioria da população estava excluída de qualquer processo que envolvesse uma relação direta com a palavra escrita. Neste panorama verdadeiramente desolador, quantos seriam os possíveis leitores de um romance? E qual seria a qualidade deles?

Basta verificar o modo como a obra de Machado de Assis circulou e foi recebida para se ter uma ideia das respostas possíveis a essas perguntas.

 Não resta dúvida de que Machado foi um escritor festejado por seus contemporâneos antes mesmo de publicar Memórias póstumas ( 1881), Quincas Borba ( 1891) e Dom Casmurros  ( 1899), hoje amplamente reconhecidos como suas obras-primas. Já nas décadas de 1860 e 1870, quando ainda não estreara como romancista. Machado era muito respeitado como crítico, poeta e autor de teatro. Por outro lado, sua obra não atendia às expectativas do tempo e não se adequava aos modelos literários mais prestigiosos daquele momento.

A princípio, foi entendida como um grande capítulo de negativas, faltando a ela colorido de linguagem, movimentação do enredo, descrições de paisagens locais, comprometimento com as questões brasileiras. Essas eram opiniões generalizadas entre os homens mais inteligentes e informados do tempo, como Silvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo. De maneiras diferentes, todos expressaram desconforto com a obra, que não sabiam como classificar.

Tudo indica, portanto, que, além de mal compreendido, Machado foi também pouco lido. Para além dos críticos literários, não se sabe quase nada sobre o modo como a sua obra teria sido lida por gente comum. Até hoje não veio à luz nenhuma carta de leitor ou leitora comum endereçada a Machado ou qualquer correspondência publicada nas secções de cartas das dezenas de jornais e revistas em que publicou boa parte da sua obra ao longo de toda a vida. A primeira versão de Quincas Borba, por exemplo, foi publicada num jornal de modas voltado para ao público feminino, chamado, A Estação. A publicação durou cinco anos e foi dada acidentada, com várias interrupções. Apesar disso estranhamente não há registro de reclamações ou pedidos de esclarecimento sobre essa interrupção. Helena, que foi um dos romances mais populares de Machado, teve uma primeira edição de 1.500 exemplares e só chegou à segunda edição em 1905, depois de 29 anos. Vale lembrar que Machado não era um entre vários grandes escritores em atividade, mas o grande escritor brasileiro, uma espécie de chefe da literatura nacional, que havia muito ocupava os lugares mais proeminentes da vida cultural brasileira.

Claro que havia a publicação em jornais e revistas, e que os livros, então muito caros, passavam de mão em mão. Mas quantos poderiam formar esse público silencioso, que não deixou marcas de sua existência? É isso que Machado, por meio de Brás Cubas, parece perguntar a si mesmo e a seus leitores no famoso prólogo.

E a resposta não parece ter sido muito animadora. Memórias Póstumas de Brás Cubas foi recebido com um silêncio quase sepulcral. Apenas três notas e três pequenos artigos saudaram a publicação do romance. O próprio Machado parece ter esmorecido logo depois da publicação desse livro, a ponto de se queixar em carta ao cunhado, Miguel Novais.

O notável é que machado, em vez de tapar o sol com peneira ou reclamar pelos cantos, como fizeram muitos escritores antes e depois dele, soube encarar a carência e o despreparo dos leitores trazendo o problema da comunicação literária para o centro da sua ficção. Ao fazer uma literatura que coloca o leitor e a leitura como questões fundamentais, Machado nos convida à reflexão sobre as condições difíceis da produção e da difusão da literatura no Brasil, o que vale tanto para o século XIX como para os dias de hoje. Em pesquisa recente do Instituto Pró- livro, 45% da população declara não gostar de ler, e quem lê compra em média 1,2 exemplar por ano.

Reler Machado de Assis depois de quase duzentos anos, pode ajudar a construir uma perspectiva histórica para a questão da leitura e da visão da estética nas obras literárias. Possibilitando assim, uma formação de leitores capazes de entender a linguagem, da vida social, política e cultural. 

 

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A partir da leitura da obra de Rancière podemos observar que Machado de Assis fazia Literatura numa perspectiva estética e política da época. Sua visão era totalmente realista sobre o Brasil, ao contrário dos leitores da época que prezavam pelo modelo de literatura da França. Suas obras eram contradição nos meados do século XIX, isso explica o porquê de algumas obras agradarem ao público nos meados de 1900 e 1910, vinte anos após a primeira publicação.

A estética é política, tudo apresenta uma concepção histórica, social e artística, seja na literatura, seja na arte, ou qualquer forma que represente a “vida”. Cenas do cotidiano a cada dia estão representadas nas formas artísticas, artes plásticas, filmes, obras literárias entre muitas outras.

Esta representação está ligada a necessidade de se identificar e expor o que é necessário entender sobre os acontecimentos políticos de um país através de qualquer manifestação artística. Porém a estética também não pode ser e não são somente reflexões da sociedade, é também arte, seja ela entendida por grandes críticos como Rancière, como o gênio da Literatura e imortal Machado de Assis.

Além do mais afirma-se que estética também pode ser apresentada e representada através das ideias subjetivas sobre arte.  Porém dependerá de quem irá avaliar o conceito sobre estética. Machado de Assis foi criticado justamente sobre a estética que produzia e por isso talvez um dos mais polêmicos do século XIX.

 Portanto cabe afirmar que, Rancière deixa algumas dúvidas para o leitor, fazendo com que ele mesmo se insira e crie o seu conceito sobre estética, pois são esses conceitos construídos individuais que trarão o verdadeiro sentido para a palavra estética.  Ele conduz a estética da arte de uma maneira rígida, mas, no entanto fugindo dos padrões, comparando com Platão, Aristóteles e trazendo para as obras curiosidade e dúvidas como Machado de Assis fez com suas obras, deixando o leitor escolher e decidir o que é melhor para os personagens.

 

 

REFERENCIAS

RANCIERE, J. A Partilha do Sensível, Ed.Exo Experimental Org.; Ed. 34 2005 SP.

 Revista história: Questão& Debates, Curitiba, nº 44, p. 215-220,2006. Editora UFPR.

 Revista de História – Biblioteca Nacional, p. 15 – 30 Centenário de Machado de Assis. Ed. SABIN, 2008.